Homenagem à João César Bueno Bierrenbach

Homenagem à João César Bueno Bierrenbach

 

Cesar01-250x300 Homenagem à João César Bueno Bierrenbach
Digitalização da pintura óleo sobre tela de  Agnelo Corrêa.

Hoje, 07 de abril de 2022, dia do sesquicentenário de nascimento do  campineiro João Cézar Bueno Bierrenbach, encontrei uma forma simples para homenagear a data de 7 de abril de 1872, data em que a família Bierrenbach recebia o seu novo integrante. Fundador do Centro de Ciências Letras e Artes que abriga o Museu “Carlos Gomes”, Biblioteca “Cézar Bierrenbach” e Memorial “Campos Salles”, neste artigo, o homenageado não terá nenhuma revisão biográfica, mas buscarei relembrar um evento que teve lugar no salão nobre e pátio das arcadas da Academia de Direito da cidade de São Paulo.

Em 15 de novembro de 1892, houve uma sessão literária organizada por João César Bueno Bierrenbach contando com outros ilustres estudantes da Academia, entre eles Carlos Magalhães de Azeredo, ocupante da cadeira de número 9 da Academia Brasileira de Letras.

Foi uma comemoração dedicada à três poetas acadêmicos: Álvares de Azevedo, Castro Alves e Fagundes Varela. Com muita solenidade em curso o evento virou notícia do jornal O Estado de São Paulo.[1]

No evento discursaram o senhor Joaquim Inácio Ramalho conhecido como Barão de Ramalho, diretor da Faculdade, o doutor Brasílio Machado, doutor Aureliano Coutinho e o acadêmico, amigo de João Cézar, Carlos Magalhães de Azeredo. Ao terminar a fala de cada orador, uma banda de música executava o hino acadêmico de Carlos Gomes e Francisco Leite Bittencourt.

O discurso final coube à João César Bueno Bierrenbach, “…que em brilhantes hipérboles saudou a memória dos três vultos acadêmicos, revelando grande e louvável entusiasmo pelo talento de Castro Alves”, assim declarado pelo periódico.

Após o discurso de João César a banda tocou o Hino Nacional para encerrar a sessão e seguir a comissão organizadora no ato de inauguração de três placas de mármores, que traziam gravados em baixo relevo, os nomes dos três poetas. O evento terminou com as três placas assentadas e inauguradas na fachada principal da faculdade deixando os nomes destes grandes vultos devidamente registrados no prédio e nos corações dos participantes do evento.

Em carta de 25 de novembro de 1892, o acadêmico Carlos Magalhães de Azeredo, comunicava ao seu mestre, amigo e incentivador Castro Alves o acontecimento, ao mesmo tempo que entregava os originais da sua produção literária “Procelárias” onde consta o poema “Desiludido”[2] juntamente com um conto do livro “Alma Primitiva” denominado “Um Caso da Boêmia”, publicado somente em 1895, ambos dedicados à César Bierrenbach.[3]

Reproduzir agora em minha página pessoal o poema “Desiludido”, que tem um quê de vaticínio relacionado a vida do meu homenageado, foi a maneira que encontrei para alargar um pouco mais a memória histórica deste grande vulto campineiro.

DESILUDIDO
(à César Bierrenbach)

Chegara o sábio da existência ao termo.
Sentindo o espesso gelo
Da morte, em suas veias circulando,
E os membros lassos do seu corpo enfermo
Pouco a pouco invadindo, convertendo o
Em cadáver inerte e miserando,

Com olhar tardo, e triste,
Caros objetos, que por toda a parte
O rodeiam, revê: são obras de arte,
Livros, painéis, lembranças de outras eras,
Em que o melhor do seu haver consiste.
Depois, travando a derradeira luta
Com a sua alma, em reflexões austeras
O passado perscruta.

Pensa: Lustraram amplo estádio, ansiosos,
Meus passos. Horizontes.
Imprevistos abri, no voo largo
De minha mente; não sonhados gozos
Provei… E o néctar dessas doces fontes
Pôs-me nos lábios um sabor amargo!

Eu penetrei a essência
Das coisas; tudo quis saber; diante
A dor mais negra, o abismo mais hiante
Não recuei. E quando o acerbo, duro,
Lento curso perfiz da experiência,
Ao invés do alquimista — pobre doido! —
Vi, entre minhas mãos, o ouro mais puro
Tornar-se pedra, e lodo…

Era jovem; amei. Consta que amado
Fui também algum dia.
Tempo dos deliciosos juramentos,
Como vais longe! É longe o teu reinado,
Quimera da vibrante fantasia,
Feita de ciúme e de ósculos sedentos!

Oh! esse amor supremo,
Imaculado encanto peregrino,
Celeste aspiração, sonho divino,
Bem vil o achei… Da poética beleza
Despido, era, por fim — dizendo-o tremo—
Um delírio carnal, bem cedo extinto,
De raiva atroz, eternamente acesa
Bruto e ferino instinto

Desesperado então, refugiei-me
Na ciência, calma e honesta,
Aqui não há — disse eu — traidora chama,
Que ao sentimento esquivo as asas queime.
Eis o almejado asilo que me resta;
Eis o nome da gloria que me chama!

Dias de faina rude,
Noites de febre, noites de vigília,
Num frio lar, sem culto e sem família!
Quantos problemas estudei, confiante
Do meu labor perene na virtude!
Que sei, em suma? Visionário louco!
Ante o universo, o teu saber tateante
É tão pouco! É tão pouco!

Tudo é nada. A esta fórmula sublime
Cheguei, Tanto o desejo,
Como a esperança, nada podem. Brade
Embora o mundo, que a mentira oprime,
Entre as verdades fúteis, que sem pejo
Ensinei, esta é a única Verdade!…

Carlos Magalhães de Azeredo – 1892

[1] O Estado de São Paulo Edição 5288 de 17 de setembro de 1892
[2] Azeredo, Carlos Magalhães de – Procellarias – Porto Typographia a vapor e Empreza Litteraria e Typographica, Porto – Portugal – 1898 páginas 168 – 170
[3] Assis, Machado de, 1839-1908. Correspondência de Machado de Assis : tomo III, 1890-1900 / coordenação e orientação Sergio Paulo Rouanet ; reunida, organizada e comentada por Irene Moutinho e Sílvia Eleutério. – Rio de Janeiro : ABL, 2011. 658 p. ; 21 cm. – (Coleção Afrânio Peixoto ; v. 98) – documento 287, página 19 ISBN 978-85-7440-229-1

Sobre o autor

Genaro Campoy Scriptore administrator

4 Comentários

Alcides Ladislau AcostaPublicado em2:41 pm - Abr 16, 2022

Congratulações, caro Genaro! César Bierrenbach muito merece essa homenagem que fez emergir, de seu breve tempo de existência, mais um episódio a demonstrar o respeito e admiração que teve pelos invulgares talentos poéticos de Castro Alves, Álvares de Azevedo e Fagundes Varela.

Alcides Ladislau AcostaPublicado em2:41 pm - Abr 16, 2022

Congratulações, caro Genaro! César Bierrenbach muito merece essa homenagem que fez emergir, de seu breve tempo de existência, mais um episódio a demonstrar o respeito e admiração que teve pelos invulgares talentos poéticos de Castro Alves, Álvares de Azevedo e Fagundes Varela.

CarmenPublicado em7:00 pm - Abr 25, 2022

Parabéns, Genaro! Sei que você deve estar satisfeito com seu trabalho. Eu também fico alegre por você.

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