Rememorando Doutor Francisco Quirino dos Santos

Rememorando Doutor Francisco Quirino dos Santos

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Jornal Diário de Campinas – Folha Popular de 07 maio 1886 Fotografia de Henrique Rosén

 

Nestes dias do mês de Maio de 2021, esperei, li e reli os jornais campineiros e paulistas, e pouco vi, ou diria, que quase nada vi, rememorando o dia da morte de um dos maiores nomes de Campinas no mundo jornalístico e na imprensa brasileira.

Passou o dia 06 de maio e fiquei pasmo, nada. Como a memória se perde? Como pode os profissionais de imprensa, perderem-se entre as “Fakes News” e esquecerem completamente a figura do poeta, jornalista, político e valoroso construtor da identidade republicana e campineira?

No dia 15 de maio de 2021, surge na página A2 do jornal “Correio Popular” de Campinas, matéria do iminente Presidente da Academia Campineira de Letras e do Conselho Deliberativo do Centro de Ciências, Letras e Artes, Jorge Alves de Lima, historiador incansável das tradições campineiras. Entendo que as homenagens feitas foram poucas diante da grandeza desta figura campineira, que teve papel destacadíssimo em nossa sociedade do século 19.

Doutor Manuel Ferraz de Campos Salles, assim se manifestou, no ano de 1887, no prefácio de uma das biografias[1] deste nobre campineiro “Doutor Francisco Quirino dos Santos”:

“As paixões são mais enérgicas do que as reminiscências, as aspirações que as saudades”, disse-o Alexandre Herculano[2], o opulento escritor da predileção de Quirino dos Santos.

E’ por isso que tenho como um serviço de maior valia todo o esforço, como este, destinado a perpetuar na memória dos concidadãos as glórias da pátria e despertar-lhes os afetos “pelo que foi grande e nobre na história do país.”

Em 07 de maio de 1886, um dia após a morte de Quirino dos Santos, assim escrevia Alberto Sarmento na Edição 3127, página 1, no jornal de sua propriedade, “Diário de Campinas” – Folha Popular:

ADEUS!

Não sei o que deva lamentar primeiramente — se a perda de um exemplaríssimo chefe do família, se a perda de uma das glórias desta terra, de um conterrâneo ilustre!

Por um lado, a esposa extremosíssima e os filhos idolatrados que sobrevivem às dores profundíssimas de uma perda irreparável, fatal; por outro, a mão estremecida que vê desprender-se de seu seio, em um adeus eterno, o filho dileto!

As lágrimas angustiosas da família e a dor imensa que a tortura… não se descrevem; o último adeus a um amigo e cidadão emérito, desprende-se-nos dos lábios com profundíssima saudade e pesar…

Adeus!

Alberto Sarmento.

Hoje, 17 de maio, exatamente onze dias após o 06 de maio, me sinto no dever de relembrar este evento lamentando o desconhecimento que a sociedade campineira tem por esta figura ímpar, inteligente, gentil, causídica, literata e profissional de imprensa. Um apaixonado pela sua cidade, que causava em seus oponentes admiração pelo cavalheirismo e a forma que conduzia suas elegantes ações. Profissional que transbordava a ética de quem respeita o ser humano independente de suas ideias ou partidos.

Não devo falar muito de sua carreira neste artigo, pois trabalho com muita intensidade para deixar registrado um pouco mais de sua vida profissional e pessoal. Uma aventura que me lancei,nestes últimos tempos, na construção de uma literatura sobre a Campinas do século XIX, assim como tantos outros o fizeram no passado.

E para deixar quem sabe, uma inspiração, para aqueles que desejam se aventurar na busca do patrono literato da Academia Paulista de Letras, o campineiro e brasileiro notável, Francisco Quirino dos Santos, que em Alexandre Herculano, aproveito para completar as palavras iniciais e transcritas acima por Manuel Ferraz de Campos Salles:

“Gloria, lucro, respeito, bênçãos são para aquele que afaga com palavras mentidas as preocupações populares; para aquele que, sem discernimento, louva, adorna ou repete como eco as opiniões que ao redor dele, talvez por cima dele, esmagando a consciência. passam como torrente. Tumultua o gênero humano correndo ao longo dos séculos: o louvador, às vezes, o promotor do tumulto, se a natureza lhe concedeu imaginação e talento, vai adiante como capitão e guia da geração que corre ébria: incita-a, arrasta-a, deslumbra-a. As coroas, voam-lhe do meio da turba sobre a cabeça. Verdade é que ao cabo de tanto lidar, ele se precipitará com essa geração no abismo do passado; verdade é, que o abismo se fechará para ele com o selo da reprovação de cima, e que, porventura, não tardará que o futuro passe por aí a sorrir, ou se afaste com tédio do sepulcro tênue do erro ou da vilania. Mas isso que importa? O homem que vendeu ao século a consciência e o engenho, que Deus não lhe deu para mercadejar com ele, foi bem considerado e glorificado enquanto vivo; foi precursor do progresso, embora este seja avaliado algum dia como progresso fatal!”

“…O que havemos dito é crua verdade; mas é a verdade. Há nesta época dois caminhos a seguir; um, estrada larga, batida, plana, sem precipícios, mas que conduz à prostituição da inteligência; outro, vereda estreita, tortuosa, contrariada, mas que se dirige ao aplauso da própria consciências. Aqueles cujas esperanças não vão além dos umbrais do cemitério e que aí veem, não o termo de sua peregrinação na terra, mas o remate da existência, que sigam a fácil estrada.[3]

Revisitar Francisco Quirino dos Santos, não deveria ser apenas uma questão de pesquisa histórica ou de literatura romântica do século XIX, é uma questão de dignidade, ética, patriotismo e civismo com uma cidade, uma nação para despertar corações adormecidos na missão jornalística do profissional de imprensa.

 

[1] Homenagem póstumas a F. Quirino dos Santos: apontamentos biográficos / com prefacio do Dr. M. F. Campos Salles; editor J. Salles Pinto. – Campinas, SP: Tipografia. Correio de Campinas, 1887.
[2] Opúsculos – Tomo II Monumentos Pátrios – Lisboa, Portugal – Casa da Viúva Bertrand – Lisboa 1838 página 4
[3] Opúsculos – Tomo II Monumentos Pátrios – Lisboa, Portugal – Casa da Viúva Bertrand – Lisboa 1838 página 5-6

Sobre o autor

Genaro Campoy Scriptore administrator

5 Comentários

Alcides Ladislau AcostaPublicado em7:46 pm - Mai 20, 2021

Cumprimentos ao atento autor, Genaro Campoy Scriptore, pelo oportuno e necessário registro acerca desse importante vulto histórico de Campinas, dr. Francisco Quirino dos Santos. Tem toda razão em alertar para a falta de reconhecimento e de culto aos homens que orgulham nossa História.

Luiz Antonio Baldo Pupo de Campos FerreiraPublicado em12:29 am - Mai 21, 2021

Parabéns pela significativa lembrança que profissionais da área não o fizeram.

Ágatta MorgannaPublicado em1:59 pm - Mar 21, 2022

Excelente pesquisa e texto, Genaro Campoy Scriptore!
Meu nome é Ágatta. Estou numa pesquisa de artigos publicados no “Gazeta de Campinas” e “Diário Mercantil”, onde o assunto principal e que dá início aos artigos é intitulado “De que morreu o dr Quirino dos Santos?” Pelo dr Climaco Barbosa, autointitulado amigo da família do dr Quirino.
O senhor poderia me ajudar fornecendo fontes de pesquisa? O senhor reside em Campinas? Sabe onde posso buscar pelos jornais da época as publicações de que preciso?
Grata pela atenção

    Genaro Campoy ScriptorePublicado em12:05 am - Mar 22, 2022

    Olá Ágata.
    Obrigado pelo comentário, resido em Campinas estou produzindo uma literatura que deverá ser publicada brevemente.
    Por email, vou enviar o que obtive na pesquisa com a morte do Doutor Quirino.
    Atenciosamente,
    Genaro Campoy Scriptore.

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