Qualquer transeunte que se aventurar a conhecer a cidade de Campinas, inevitavelmente passará pela antiga Rua de Cima, também conhecida como Rua Direita, que hoje leva o nome de Rua Barão de Jaguara. Esta rua recebeu a denominação de Rua de Cima por estar situada no ponto mais alto da topografia do bairro Nossa Senhora da Conceição do Mato Grosso. Tropeiros e viajantes que chegavam ao bairro encontravam, no ponto mais baixo, uma segunda trilha denominada Rua de Baixo, hoje conhecida como Rua Lusitana.
A Rua de Cima foi assim chamada até o ano de 1848, quando passou a se chamar Rua Direita. Na sessão da Câmara Municipal de Campinas, em 1º de julho de 1889, por proposição dos vereadores doutor Ricardo Gumbleton Daunt, Otto Langaard e José de França Camargo, seu nome foi alterado para Rua do Barão de Jaguara. O intuito era homenagear em vida Antonio Pinheiro de Ulhôa Cintra, que em 20 de junho de 1888 havia recebido o título de Barão de Jaguara.
Antonio Pinheiro de Ulhôa Cintra era filho de Delfino de Ulhôa Cintra e Dona Antonia Benedita Dias da Silva. Nasceu em 12 de junho de 1837 e foi batizado em 23 de junho de 1837 na paróquia de Santa Ifigênia, em São Paulo, capital. O registro consta no Livro 3, folhas 112, frente e verso.
Seu pai, Delfino de Ulhôa Cintra, foi um político influente, atuando como deputado por São Paulo em diversas legislaturas. Além disso, ocupou cargos importantes, como vice-presidente, secretário e membro de comissões da Fazenda e Estatísticas.
No ano de 1855, durante o segundo ano da faculdade de medicina no Rio de Janeiro, Antonio Pinheiro de Ulhôa Cintra já trabalhava na enfermaria da Rua da Imperatriz, 133. Em 1857, realizou os exames do quarto ano e foi aprovado, sendo nomeado Praticante de Cirurgia nas repartições do Exército Imperial.
Em 1858, por decreto imperial de 28 de agosto, foi nomeado Oficial de Secretaria da Tesouraria de Minas Gerais. Após ser aprovado no sexto ano da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 8 de novembro de 1859, começou a clinicar no Hospital da Misericórdia, no Rio de Janeiro. Em 1860, teve uma passagem pelo exército, obtendo a patente de tenente-coronel como membro do Corpo de Arsenal de Guerra do Exército.
Em 1860, Antonio Pinheiro de Ulhôa Cintra casou-se com Adelina Torquato Marques de Oliveira, que passou a assinar posteriormente ao casamento como Adelina Henriqueta Cintra, adicionando ao seu nome o segundo nome de sua mãe. Adelina faleceu em 15 de agosto de 1880, em Mogi Mirim, de onde era natural, deixando uma grande prole de filhos.
De 1859 a 1861, Antonio Pinheiro de Ulhôa Cintra foi registrado como membro efetivo do Instituto Médico Brasileiro, que tinha como presidente o eminente Adolpho de Bezerra de Menezes Cavalcanti, que posteriormente se tornaria uma figura destacada do Espiritismo no Brasil.
Em 1861, Antonio estabeleceu uma clínica médica na cidade de São Paulo, inicialmente na Rua do Sabão, 139, e depois na Rua das Violas, 23, onde permaneceu até 1863. Em 1864, o Correio Paulistano narra sua chegada em Mogi Mirim, vindo de uma fazenda a sete léguas (aproximadamente 42 a 43 quilômetros), onde sua família se encontrava, para atender pessoas doentes na cidade.
Em 1865, Antonio formou um partido em Mogi Mirim e continuou a atender às necessidades médicas da cidade.
Em 1868, Antonio participou do grupo que iniciou contribuições para o prolongamento da Companhia Paulista de Estradas de Ferro para o ramal de Araraquara, Limeira, Capivari e Mogi Mirim, o que me leva a acreditar que sua fazenda ficava nas imediações de Limeira ou Jaguariúna.
Neste mesmo ano, foi nomeado Inspetor de Instrução Pública em Mogi Mirim e assumiu o cargo de Comissário Vacinador na cidade, do qual pediu exoneração em 1869.
Nas eleições para deputado provincial de 1869, apresentou-se como candidato do Partido Conservador pelo 3º distrito. Em 31 de janeiro de 1870, foi diplomado como Deputado Provincial pelo 3º distrito, na 18ª Legislatura (1870–1871), seguindo os passos de seu pai na política.
De 1871 até 1874, empenhou-se na construção da Estrada de Ferro Mogiana, que partia de Campinas com linha final em Mogi Mirim, e tinha um ramal até Amparo. Seus companheiros nessa jornada foram os conservadores Antonio de Queiroz Telles, Joaquim Egydio de Souza Aranha, José Egydio de Souza Aranha, Joaquim Quirino dos Santos e o comendador Zeferino da Costa Guimarães.
Em 1871, juntamente com seu amigo Antonio Gomes Guacury, Antonio dirigiu o hospital “Casa de Saúde Santo Antonio” em Mogi Mirim, que oferecia tratamento de baixo custo para escravos, colonos das fazendas e o público em geral. Em 2 de maio de 1872, anunciou que o hospital estaria sob sua direção exclusiva a partir dessa data.
Em 15 de dezembro de 1874, seu irmão, Delfino Pinheiro de Ulhôa Cintra Júnior, casou-se em Campinas com Angélica Machado Florence, filha de Hercules Florence. As testemunhas do casamento foram Hercule Florence e Antonio. Seu irmão seguiu os passos do pai na política, atuando como deputado conservador em diversas legislaturas, assim como Antonio.
Em 8 de agosto de 1876, faleceu seu sogro, Luiz Torquato Marques de Oliveira, proprietário da Fazenda Sete Lagoas, nas imediações de Mogi Mirim, hoje uma fazenda da Suco Cítrico Cutrale.
No final de 1876, em 17 de dezembro, Antonio Pinheiro de Ulhôa Cintra foi homenageado por seus amigos, que ao meio-dia foram recebidos em sua residência com uma banda de música. Em seguida, partiram para a estação de Mogi Mirim, onde seu retrato foi colocado na sala ao lado dos quadros dos presidentes da Companhia e do retrato de João Teodoro.
Perdeu sua esposa, Dona Adelina Pinheiro de Ulhôa Cintra, em 15 de agosto de 1876.
Em 1881, juntamente com seus pares José Guedes de Souza e doutor João Gabriel de Moraes Navarro, Antonio realizou algumas articulações para sua volta à Assembleia Legislativa, da qual havia se afastado em 1879, sem obter sucesso.
Casou-se em segundas núpcias no final de 1881 com Dona Antonia da Rocha Cintra. Dos dois matrimônios, teve uma grande prole, e seus biógrafos contam que ele teve entre 18 e 20 filhos.
Em 26 de outubro de 1886, Dom Pedro II e sua comitiva chegaram a Mogi Mirim, onde foram recebidos e hospedados por José Guedes de Souza. Alguns membros da comitiva foram hospedados por Antonio Pinheiro de Ulhôa Cintra.
Em 7 de maio de 1887, por graça do Imperador Dom Pedro II, Antonio recebeu a comenda da Ordem da Rosa. Em 14 de julho de 1887, foi nomeado 5º vice-presidente da Província de São Paulo.
Em 20 de junho de 1888, recebeu o título de Barão de Jaguara, na mesma época em que João de Ataliba Nogueira recebeu o título de Barão de Ataliba Nogueira.
Em 6 de abril de 1889, foi nomeado e assumiu a administração de São Paulo como o 52º Presidente da Província em 11 de abril. Durante seu governo, dedicou toda a sua atenção à epidemia de febre amarela que assolava vários pontos da província.
Em 30 de abril de 1889, a Câmara Municipal de Campinas enviou uma representação à presidência da Província, solicitando a convocação de uma sessão extraordinária da Assembleia Legislativa. Campinas necessitava urgentemente de um serviço completo de águas e esgotos para a municipalidade, e para isso requeria recursos orçamentários para canalizar águas e esgotos em curto espaço de tempo. A representação foi assinada pelos vereadores José Paulino Nogueira, Otto Langaard, Antonio Álvaro de Souza Camargo, Júlio de Mesquita, José de França Camargo e doutor Ricardo Gumbleton Daunt.
Diante da solicitação, o Presidente da Província convocou rapidamente a sessão extraordinária da Assembleia Legislativa, que expediu uma lei com o seguinte teor:
- Autoriza empréstimos à Câmara Municipal de Campinas.
- A Câmara Municipal de Campinas deveria pagar os empréstimos em parcelas semestrais com juros de 6% ao ano, em dois anos.
- Autoriza a Câmara Municipal a criar um imposto predial para pagar os empréstimos.
- Garante que a execução e fiscalização do serviço de águas e esgotos ficassem a cargo do Governo Provincial.
Imediatamente, o Barão de Jaguara decretou a resolução de um imposto de 9% sobre o valor dos imóveis, a partir de 1889-1890. De imediato, o Barão se prontificou e visitou pessoalmente as condições de Campinas e a miserável situação em que se encontrava. Entre as principais medidas, recomendou o uso de água fervida e a obtenção de água dos mananciais próximos da estação de Valinhos, incumbência que foi assumida por Walter John Hammond, engenheiro da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, sem custos para os cofres públicos.
Ele propôs ao governo imperial um serviço de desinfecção e limpeza das fossas e poços e solicitou a presença de seis médicos e oito internos, além dos que já estavam trabalhando na cidade no atendimento aos pacientes. O governo geral enviou os doutores Luiz Manoel Pinto Netto e Francisco Correa Dutra, o farmacêutico Joaquim Torquato Soares da Câmara, os estudantes do curso médico Alberto de Castro Menezes e Victor Pacheco Leão, e os enfermeiros João Francisco de Mello e Silva, Gregório Joaquim Leite e José da Costa Cordeiro para auxiliar o Doutor José Maria Teixeira, nomeado durante a administração de seu sucessor.
Mesmo diante dessas medidas, a epidemia continuava a vitimar a população, conforme descrito pelo Barão:
“Em Campinas, porém não tendo cedido a epidemia, continuando antes a vitimar de um modo pavoroso a população, então muito reduzida pela retirada em massa de grande número de pessoas para as localidades vizinhas, resolvi nomear uma Comissão Médica de Socorros, composta -do doutor Francisco Marques de Araújo Góes como presidente e dos doutores Claro Homem de Mello, Jeronymo de Conto, Aristides Franco Meireles, Irineu de Britto e Philippe Jardim, como auxiliares, afim de proceder a um serviço completo de desinfecção, tanto nas habitações como nos hospitais e bem assim para tomar quaisquer, providências que julgasse acertadas para combater o mórbo epidêmico.”
A Comissão Médica, presidida pelo Doutor Araújo Góes, visitou em apenas 7 dias um total de 1308 casas, mostrando uma média de 187 casas desinfetadas diariamente.
A passagem do Barão de Jaguara pela Presidência da Província foi breve, mas sua eficiência e comprometimento como político competente e patriota devotado conquistaram a confiança do público e dos moradores. A rua Direita já era chamada de rua do Barão, mesmo sem ter sido oficialmente homologada pela Câmara Municipal.
Quando deixou a presidência da Província em 10 de junho de 1889, recolheu-se ao lar, mas sem abandonar sua vida pública. Ele foi eleito vice-presidente da Companhia Paulista de Vias Férreas e Fluviais, vice-presidente do Banco Provincial de São Paulo (também conhecido como Banco dos Lavradores), fundador da Companhia Oeste Agrícola, presidente do Congresso Médico-Cirúrgico de São Paulo e membro da mesa da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
No ano de 1891, foi eleito senador pelo Partido Republicano Paulista, com 25.468 votos, nas eleições de 30 de abril, para representar São Paulo no Senado. Mantendo uma postura conservadora, defendia o discurso: “Podemos ser tão bons conservadores na República como fomos na Monarquia”.
Por conta de várias enfermidades, ausentou-se frequentemente do Senado e da capital, buscando refúgio em sua fazenda em Mogi Mirim ou em São Paulo. Faleceu em 14 de agosto de 1895, sendo seu féretro realizado no dia seguinte, 15 de agosto, às 10:00 da manhã.
Encerro a vida pública deste valoroso Paulista com uma tabela de suas conquistas políticas, de seu irmão e de seu pai.
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