O olhar de dois metodistas para a Vila de São Carlos em 1852

O olhar de dois metodistas para a Vila de São Carlos em 1852

Cafezal01-300x201 O olhar de dois metodistas para a Vila de São Carlos em 1852

 

 

Os reverendos metodistas, Daniel Parish Kidder e James Fletcher, maravilharam-se com a paisagem deslumbrante dos cafezais descortinada aos seus olhos, depois de mais de 160 quilômetros de cavalgada.

A importante cidade de Campinas, antiga Vila de São Carlos, local planejado para o descanso dos viajantes, emprestava toda sua formosura ao entardecer, para embelezar e impressionar os dois estrangeiros, que ao sair do mato grosso das campinas, uma muralha vegetal que separava a vila de São Carlos da Vila de Jundiaí, ficaram perplexos com as imagens obtidas por suas retinas.

O espanto e a admiração com a fertilidade da terra campineira, com as extensas planícies, pradarias ondulantes e quase todos os alqueires ocupados pelas plantações de café, que segundo os reverendos eram: “…plantações de café altamente cultivadas, das quais um verde profundo mais pareciam um prato gigante de vegetais verdes, espiando aqui e ali as grandes residências brancas dos fazendeiros”.

O entardecer de um dia do inverno em Campinas, sempre foi e será um espetáculo reservado para o olhar mais meticuloso, não seria diferente para os estrangeiros que das selas de seus cavalos, vislumbravam o céu em tom pastel ao noroeste, com o anoitecer índigo ao norte e nordeste, iluminado pelas enormes fogueiras espalhadas pelas planícies e pelos fogos de artifícios, que formavam incríveis efeitos e explosões semelhantes a um bombardeio a uma cidade sitiada.

Era véspera de São Pedro, e todo brasileiro com o nome de Pedro, sentia-se obrigado pela tradição religiosa, festejar com fogos de artifícios e fogueiras, que aqueceriam a noite dos festejos.

Na falta dos fogos, nas portas de suas casas, disparavam pistolas, mosquetes e bombas diversas enquanto crianças, mulheres e cidadãos festejavam o santo.

Foi assim, que os reverendos metodistas descreveram sua chegada na cidade de Campinas, guiados por dois guias paulistas, contratados para a expedição à província de São Paulo:

“…Meus dois guias paulistas me conduziram pelas ruas estreitas, e finalmente chegamos a uma fileira de pequenas casas caiadas de branco”.

As pequenas casas caiadas eram residências dos amigos dos guias, e os reverendos não pensavam em se hospedar com os amigos dos guias, porém, como não havia ninguém para levá-los até uma estalagem, um hotel que poderia, ou não, ter acomodações disponíveis. Resolveram, então, hospedarem-se ali mesmo, dado ao cansaço dos animais fatigados e convencidos pelas gentilezas dos donos das casas, embora as condições de acomodações não eram as ideais, mas com certeza eram  melhores do que tinham tido na noite anterior.

Segundo os reverendos, a residência em que se hospedaram era do carpinteiro Theobaldo ou Theobardo, que não havia construído uma casa de madeira, mas sim, da mesma substância encontrada na rua, terra batida, material das paredes e dos pisos.

Na manhã seguinte o reverendo pôde confirmar o interior da residência, pois na noite anterior estivera só no  pátio.

O reverendo descreve o carpinteiro como metade índio, meio mulato, e se tivesse que ter qualquer outra metade seria de meio português amarelo.

As palavras do reverendo, nesta hospedagem foram que: “Naquela noite, o sono foi de fato doce; e na manhã seguinte parti cedo, deixando minha bênção e mil réis com o gentil Senhor Theobardo. O primeiro ele aceitou, mas o último ele declinou, até que eu forcei aceitar como oferta de uma lembrança.”

No dia 29 de junho de 1852, a comitiva dos missionários, partiu em direção a Limeira, incorporando mais dois jovens alemães.

“A rota era ainda mais pitoresca do que a de ontem. A estrada fina foi ofuscada por árvores e vinhas selvagens; e os pássaros caricatos e cantores fizeram as dez léguas (mais ou menos 60 quilômetros) parecerem curtas.“Todas as casas à beira da estrada, e até mesmo as enormes igrejas, são construídas de lama, ou melhor, cobertas com barro. Os grandes conventos de São Paulo e a imensa igreja de Campinas, cujas paredes têm um metro e meio de diâmetro são compostos de terra batida”.

Todo o aspecto do país havia mudado: o cenário sublime da costa não estava aqui para ser encontrado, mas, em seu lugar, aquilo que me lembrava os Estados Unidos. Na novidade dos assentamentos e plantações que visitava, eu poderia facilmente ter acreditado estar na parte norte de Ohio.”

Hoje, quando estamos há cento e setenta e um anos da visita desses nossos amigos metodistas, presto a minha homenagem singela para a cidade de Campinas e à figura paterna, do avô italiano, que incorporou durante toda a sua vida os festejos de São Pedro.

 

Bibliografia:

Fletcher, James C. Rev., Kidder, Daniel P. Rev. – Brazil and The Brazilians Portrayed In Historical and Descriptive Sketches. Eight Edition – Boston: Little, Brown and Co – London: Sampson, Low, Son and Co. – 1868 p.  399 – 403. In: Scriptore, Genaro Campoy – Freguesia, Vila e Cidade de uma Campinas Velha – p. 91- 93

 

Sobre o autor

Genaro Campoy Scriptore administrator

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