“A mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta”
Tenho observado o fenômeno comportamental nas relações humanas que carregam em si atitudes dirigidas a construir comportamentos politicamente corretos em celebridades, personagens da mídia do momento, políticos e lideres empresariais que se revezam nos elogios entre si por atitudes robóticas que imprimem um certo ar de consenso carreirista.
Nas redes sociais é muito fácil distinguir tal comportamento onde a discordância consensual pode significar o alijamento da participação e o isolamento da personagem discordante sendo uma busca incessante por obter unanimidade e unidade de pensamento em grupos que incoerentemente se dizem diverso, respeitoso e até mesmo libertário.
É muito comum observar que certas críticas ou até mesmo comentários discordantes passam por análise da censura pessoal sendo excluídas, deletadas e até mesmo editadas para atender as exigências daqueles que cultuam a unanimidade de opiniões. Já dizia Walter Lipman: “Quando todos os homens pensam da mesma forma, ninguém pensa muito.” (When all men think alike, no one thinks very much.) e Nelson Rodrigues: “Toda a unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar”.
Pior do que o comportamento politicamente correto como padrão mínimo de comportamento é o desvio de comportamento sob a pretensão de ser responsável, ético e politicamente correto nas vistas da sociedade enquanto particularmente e individualmente apresenta-se comportamento e sintomas de desvios de personalidade e caráter sem ética a que se pretende na construção do marketing pessoal.
No ano 63 A.C nas festividades de Bona Dea (Boa Deusa) reservada somente ao público feminino contou com a presença de Públio Clódio Pulcro jovem patrício que ousou invadir o festival fantasiado de mulher com o propósito de seduzir Pompéia, mulher de Júlio César. Sem ter provas contra o invasor, mesmo assim César se divorciou de Pompéia considerando que “minha esposa não deve estar nem sob suspeita”, o que originou o ditado “À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta.”
Atitudes travestidas pela mídia como de humildade, espírito de equipe, respeito, competência e perfeição, mesmo parecendo absolutamente éticas carregam em si próprias a imperfeição do ser humano escondidas em egos carregados de orgulho, recompensa material, medo, sobrevivência e outros instintos que se escondem em detrimento do não bastar ser, mas do parecer ser, para poder desfrutar o verdadeiro “status quo” de liderança e poder que tanto se almeja.
Liderança nos dias de hoje é palavra mágica para atribuir exemplos que endeusam personalidades apáticas, mas que parecem simpáticas nas construções de interesses particulares e pessoais.
Marketing pessoal é uma ferramenta usada para promoção pessoal de modo a alcançar o sucesso. É uma estratégia usada para “vender” a imagem, e influenciar a forma de como pensam as pessoas para uma olhar positivo da pessoa que dispara a estratégia. É exatamente assim que se define a construção de uma Marca (Brand) pessoal.
Este procedimento traz alguns sérios questionamentos:
Como podemos dissociar capacidade de comunicação da inteligência emocional interiorizada? Ou postura profissional adequada do verdadeiro conjunto de valores éticos e pessoais? Como os cuidados com a aparência podem influenciar as etiquetas sociais formais ou informais adequadas? Como a criatividade e Inovação podem agredir a sociabilidade e socialização em grupo? E para aumentar ainda mais o horizonte do pensar, como as qualidades da humildade podem conviver com o caráter altivo, ambicioso, determinado e geralmente egocêntrico dos lideres modernos?
Algum profissional de marketing que provavelmente conhecia bem os escritos de Cicero, Dião Cassio e Suetônio narrando as atitudes de Pompéia, mulher de Júlio César e seus descuidos junto a personalidade de César, soube inverter bem a história e nos anos 80 criou um comercial de Shampoo para combater a caspa que dizia: “Parece remédio, mas não é….”
Parecer e ser são verbos muito distintos, parecer predicativo e pronominal exige o esforço de ter o aspecto, a aparência ou até mesmo se transmudar em semelhante. Enquanto o verbo ser predicativo, intransitivo, auxiliar e várias outras modalidades gramaticais não exige esforço nenhum, simplesmente é, está, existe, subsiste, vive, possuí identidade própria e capacidade inerente a ele mesmo.
Por isso que o humano carrega em si a imperfeição, capacidade inerente de se permitir ser falho e carregar diversas outras imperfeições.
O parecer é o pior que pode acontecer ao ser humano, já que as falhas e as imperfeições são jogadas para baixo do tapete e o pior é que sempre alguém descobre a sujeira. E quando isto acontece exige-se mudança imediata.
O profissional de marketing e propaganda é expert em fazer parecer, poderíamos aqui listar uma série deles, inclusive com prêmios nacionais e internacionais em diversas categorias que quebraram paradigmas, cases de verdadeiro sucesso, porém sem nunca mencionar um aspecto sequer das fraquezas empresariais, mesmo por que isto seria uma arma nas mãos de profissionais com competência.
E aqui é onde reside o meu ponto: basta ter um pouco de reflexão, compreensão, leitura, competência e capacidade analítica para perceber as imperfeições ignoradas nos cases de sucesso badalados pela mídia de marketing para ver que “Até o diabo se veste de politicamente correto para construir uma marca pessoal”.
Sobre o autor