Arquivo mensal 19/10/2024

Direita, Centro ou Esquerda

Direita-ou-EsquerdaFoto01 Direita, Centro ou Esquerda

Foto Google Maps em 20 de setembro de 2020

 

Se as coisas são inatingíveis… ora!
não é motivo para não querê-las…
Que tristes os caminhos, se não fora
a mágica presença das estrelas!

Mario Quintana
Livro Espelho Mágico – Das Utopias

Para aqueles que se acham orgulhosos de suas posições políticas, e de como se envaidecem com o fato de ser de direita ou esquerda, a pesquisa e estudo seria de grande valia para entender um pouco mais sobre o significado de tais posições, que são herança de discussões acirradas na busca de reconhecimento social, da liberdade de expressão, liberdade política e de participação democrática.
Na monarquia parlamentarista inglesa, na Assembleia Nacional Francesa, na Assembleia das Cortes Portuguesas e em todos locais onde funcionavam as discussões políticas, por tendência de aglutinação, debatedores se posicionavam a direita ou a esquerda do ponto central que atuava na presidência da mediação.
De um lado, aglutinavam-se os debatedores com perfis conservadores, características daqueles que defendiam as ordens instituídas preservando os ritos e costumes históricos já adquiridos nacionalmente. De outro lado os perfis liberais, características daqueles que defendiam novas ideias que estabelecessem novos e modernos ritos para serem absorvidos nacionalmente.
Tais posições poderiam ser encontradas tanto a esquerda ou direita da presidência da mediação.
Para um observador mais apurado, das reuniões sociais dos dias de hoje, confirmaria atentamente que sempre teremos grupos ou pessoas unidos a direita ou a esquerda de alguém, ou de uma mesa central que de alguma maneira ocupará uma posição mediadora, por um determinado tempo. Não é raro verificar que muitos, nestas reuniões, passam da esquerda para direita com bastante frequência, enquanto outros não arredam pé de sua posição nem para buscar comida ou bebida.
Independente das ideologias da esquerda ou direita a verdade é que sempre teremos estes que tendem a ser conciliadores, geralmente aqueles que passam da esquerda para a direita recolhendo subsídios para definir sua posição, ou seja, buscando identificação para se fixar nos grupos da direita ou da esquerda.
Democracia não é só um regime político que tem origem na eleição de representantes do povo, elegíveis para o seu governo, mas sim na prerrogativa de conceder o direito de participar nestas reuniões de forma livre conferindo passe, convite, ou até mesmo uma senha para podermos ingressar em evento social, fixando-nos a direita, a esquerda ou passeando entre os dois.
O espírito conservador não está somente na defesa do direito de propriedade, ao uso de arma de fogo ou a um governo executivo centralizado e poderoso, que possa extinguir o Senado, a Câmara e o Supremo Tribunal Federal, apoiado por forças militares, como em um passe de mágica. Esta sim, no espírito de quem manifesta claramente a defesa ao estado de direito e na garantia dos três poderes igualmente balanceados (Executivo, Legislativo e Judiciário), no combate da impunidade e corrupção, na defesa de soluções que aumentem ainda mais a representatividade da vontade popular e o respeito às autoridades constituídas.
O espírito liberal ou progressista não está somente na desregulamentação do mercado, na criação de mecanismos que subvertem leis estabelecidas para atender demandas de interesse de grupos sociais, financeiros ou econômicos. Nem tampouco na desobediência civil desenfreada, que só têm validade quando a vontade popular é maior, quantitativamente, do que os interesses de grupos refugiados por leis que atentem contra o artigo 5º da Constituição: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (mais 78  incisos e alíneas)”
Nossa Constituição garante tanto ao conservador como liberal ou progressista, formular, comunicar, escrever, defender pontos de vistas e convicções políticas, religiosas, ou seja, todos podem se colocar como desejar entre a direita, centro e a esquerda.
O que não parece ser desejo de nenhuma nação é o de rasgar suas Cartas Régias, sua Constituição, permitir que indivíduos acima da lei e das normas possam, reprimir a vontade popular utilizando-se de armas e suspendendo garantias individuais com atitudes antidemocráticas historicamente clássicas nos regimes autoritários e despóticos.
Quando uma sociedade chega ao desespero de utilizar a força, o autoritarismo, a determinação de um único pensamento individual para definir seus destinos, fica claro, que não é uma sociedade, uma nação, mas sim um curral de indivíduos liderados por um despótico que determina a direção da população encurralada.
Em geral, governantes são acometidos da “Síndrome de Húbris”, uma doença estudada neste início do Século XXI, que estuda o poder e a doença que ele acomete, como uma embriaguez de poder que provoca a perda e o sentido da realidade nacional, desperta a soberba, a presunção e a persistência perversa em políticas nascidas da cabeça de um único indivíduo que não consegue avaliar os sinais positivos ou negativos de seus atos.
O medo, o receio, a precaução, são sentimentos que têm por finalidade proteger o ser humano. Mas quando esta finalidade se torna exacerbada provoca diversos desvios psicológicos. Atos desesperados em controlar sentimentos, eventos, possibilidades futuras ainda inexistentes, variáveis exógenas incontroláveis como fenômenos naturais e até mesmo patologias ainda não diagnosticadas.
Uma sociedade democrática não é compatível com sociedades secretas, a não ser as legalmente prevista, que protegem o interesse nacional. Fora disto fica claro que o direito de associação é previsto por lei e tem como base a transparência, garantido pelo direito constitucional. Porém todo aquele que tem cargo público, por ética, deveria manifestar a sua associação junto a entidades empresariais e desportivas, sociedades culturais políticas e científicas. Tal condição faz da sociedade mais transparente e garante a liberdade de escolha do indivíduo a buscar a direita, esquerda ou o centro.
Uma nação só consegue ter a paz necessária para reger os seus destinos quando a direita respeita a esquerda e vice versa. Quando o centro, entre a esquerda e a direita seja respeitado e respeite com dignidade a esquerda e a direita. Todos se respeitando como nação e não como animais racionais encurralados na disputa de um espaço para atender suas necessidades materiais.
Extratos sociais que se consideram influenciadores e formadores de opinião, como classes privilegiadas e que estão no topo da pirâmide social, não podem negar a validade do voto de quem está nos estágios intermediário e na base da pirâmide social somente por que residem na periferia, no centro ou nos bairros operários, sob a alegação que se trata de população burra, incompetente e de fácil manobra. Falsa alegação, se assim fosse, os extratos sociais no topo do poder estariam indefinidamente no poder. Tais extratos sociais são minorias diante da grande população e acham que podem manipular em uma guerra de direita, centro e esquerda a representatividade da grande quantidade de votos que vem dos bairros operários, das favelas e da periferia.
Como diria um mestre que tive no colégio: “Manipular, mascarar, enganar, oprimir pelo medo, oprimir pela ironia e sarcasmo são armas de falsos guerreiros que sempre acabam nas mãos de alguém mais inteligente, transparente e que tem seu domínio fundado na verdade”
A desvalorização do outro pela mentira, pela falsidade e hipocrisia um alguns momentos surtem alguns efeitos, mas o tempo, a razão e os fatos de forma natural e organizada, conseguem definir claramente e registrar as linhas da verdade no conteúdo histórico de uma nação.
Por isso, não importa a posição que você ocupe, direita, centro ou esquerda, qualquer uma delas é parte integrante da cidadania do brasileiro, queira você aceite ou não. O que é repudiado, o que não é aceito e degrada a condição de cidadania, é obrigar todos a uma única posição. Fato impossível de acontecer e nunca acontecerá em razão da formação gentílica, fundada nos  índios, negros, portugueses e imigrantes europeus que construíram o Brasil de todos os Brasileiros. Claro que alguns desesperadamente buscam trocar sua nacionalidade na tentativa de negar sua nacionalidade e se afastam dos desafios nacionais, para se locupletar com os benefícios sociais de outras nações europeias, americanas e até mesmo asiáticas. Ainda assim serão brasileiros, no coração, na alma e no caráter, pois não se consegue mudar a história pessoal, familiares, seu local de nascimento, suas paisagens, seu território ou seu idioma materno.
A fonte original de poder de uma sociedade, não concede mais ou menos direitos para alguns indivíduos do que aos outros, independente de suas profissões, de seus papéis sociais, seus relevantes serviços prestados ou mesmo de seus dotes culturais ou artísticos. Basta que se some os direitos cívicos dos integrante de uma nação para se conhecer os destinos de uma nação em busca da construção de sua soberania nacional.
Portanto, estando à direita, no centro ou na esquerda, fazemos parte do povo brasileiro, povo nacional, fonte de poder da sociedade brasileira, parte de uma pluralidade de ideias compartilhadas que mantêm nossa soberania nacional, expressa pelo poder que reside em nosso povo, independente de qualquer interpretação pessoal, manifestado pelo sentido de que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.

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Oração aos Moços

Rui-Barbosa-228x300 Oração aos Moços

“Legalidade e liberdade são as tábuas da vocação do advogado”

Ruy Barbosa de Oliveira

O maravilhoso da literatura é descobrir que valores pregados pelos autores que temos consideração e respeito, ainda que em séculos anteriores, são valores tão reais que podem trazer à consciência, atualmente, qualquer ser menos esclarecido que tenha o desejo de evolução.

Nesta noite, me vieram cair de novo em mãos o discurso do eminente Rui Barbosa aos bacharelandos da Faculdade de Direito de São Paulo no ano de 1920, um singelo livreto de 55 páginas, muito conhecido nos meios acadêmicos da área do Direito como a “Oração aos moços”.

Quantas vezes li e reli os valores exaltados na “Oração aos moços”, escrito com base nos mais conceituados filósofos da antiguidade, nos valores do Padre Manuel Bernardes e suas várias obras escritas no século XVII, nas Sagradas Escrituras e carregado de uma emoção clara daquele que soube escolher profissão com dignidade.

Esta noite, eu aprenderia um pouco mais com aquele que foi o “Águia de Haia”, o “Grande Ruy”, como meu avô materno com seu sotaque espanhol se referia ao emérito homem público Ruy Barbosa de Oliveira.

Segundo Francisco da Silveira Bueno, outro grande estudioso da arte da oratória, salientando as qualidades da redação do “Grande Ruy”, coloca toda sua interpretação na tese de que ele era um orador para ser lido e não para ser ouvido.

O “Grande Ruy” doente, sem poder comparecer à solenidade de formatura como o paraninfo escolhido de tão seleta turma, escreveu o discurso, cujas páginas foram recolhidas por alguns formandos na cidade de Petrópolis e lido pelo diretor da faculdade, Reynaldo Porchat, diante da impossibilidade de sua apresentação no evento.[1]

Detalhes à parte, sem muitas pretensões ao folhear a página 46[2],não consegui desviar minha atenção na profundidade com que o grande escritor utiliza dois textos maravilhosos para ensinar-me o valor daquele que julga e é julgado. O primeiro se reflete nas Escrituras: “Não cometam injustiça em um julgamento; não favoreçam o pobre, nem procurem agradar os poderosos, mas julguem o seu próximo com justiça.”[3] O segundo, o “Grande Ruy”, vai buscar na fonte da literatura luso-brasileira, nos sermões e práticas do Padre Manuel Bernardes:

“Se não tens animo para romper pela impiedade, não queiras ser juiz. Bem praticou esta virtude Canuto Rei dos Vândalos, que mandando justiçar uma quadrilha de salteadores, e pondo um deles embargos, de que era parente do Rei, respondeu: Pois se provar ser nosso parente, razão é que lhe façam a forca mais alta.

É não só nas obras de justiça, mas também de caridade devemos evitar exceção de pessoas.” [4]

Hoje ao constatar os favorecimentos judiciais recebidos pelos amigos do Rei, justificados pela ampla defesa e do contraditório, onde os embargos não produzem a forca alta e nem baixa e ficam todos à mercê do transito em julgado.

Ao ver os poderosos se locupletando com pedidos de proteção a família, aos amigos e a corte que esta acima da lei e da justiça, sinto que a justiça é só mais um meio de vida, para não dizer de negócios.

Ao ver a quadrilha de salteadores subjugar a sociedade entre zombaria, escárnio e menosprezo, tenho certeza de que os “moços” da oração do “Grande Ruy”, das duas uma, ou não escutaram bem suas palavras, ou pior, são totalmente ignorantes quanto ao seu significado e relevância.

“Como vedes, senhores, para me não chamarem a mim revolucionário, ando a catar minha literatura de hoje nos livros religiosos.

Outro ponto dos maiores na educação do magistrado: corar menos de ter errado que de se não emendar. Melhor será que a sentença não erre. Mas, se cair em erro, o pior é que se não corrija. E, se o próprio autor do erro o remediar, tanto melhor; porque tanto mais cresce, com a confissão, em crédito de justo, o magistrado, e tanto mais se soleniza a reparação dada ao ofendido.”[5]

E aprendi, nesta noite, pelas palavras de sua “Oração”, mesmo não sendo tão moço, que: “Não há justiça, onde não haja Deus”.[6]

Ainda sonho como o “Grande Ruy”, que ainda haveremos de ver um judiciário composto de bacharéis que, “não se colocarão baixo com os grandes, nem arrogante com os miseráveis. Que servirão aos opulentos com altivez e aos indigentes com caridade Amarão a Pátria e amarão aos pobres enternecidamente, guardando a fé em Deus, na verdade e no bem.”[7]

[1] https://economia.uol.com.br/blogs-e-colunas/coluna/reinaldo-polito/2019/02/26/rui-barbosa-era-ou-nao-bom-orador.htm consultado em 09 de julho de 2020, às 21:00 horas.

[2] Oliveira, Ruy Barbosa de – Discurso aos bacharelandos da Faculdade de Direito de São Paulo em M.CM.XX -Editora Mensário Acadêmico Dionysus, São Paulo, 1921, pág. 46

[3]BÍBLIA, A. T. Levítico 19 vers. 15, in Bíblia Sagrada – Nova Versão Internacional – Geográfica, São Paulo, 2000 pág. 89

[4] Bernardez, Padre Manoel – Sermões e Práticas, Primeira Parte, Dedicada a Soberana Rainha do Céu – Oficina Real Deslandesiana, Lisboa, 1711, pág. 263-264

[5] ibidem 2

[6] Ibidem 2, pág.47

[7] Ibidem 2, pag. 49

 

Os Jantares de Madame Maintenon

Edouard-Manet.-Um-bar-no-Folies-Berger.-1882-300x224 Os Jantares de Madame Maintenon

Édouard Manet-Um bar no Folies-Bèrger 1882

A pesquisa, muitas vezes, se assemelha a um vício: uma vez capturado pela atividade, torna-se difícil abandonar o assunto pesquisado. De forma quase obsessiva, ela apresenta um grau de abstração que nos leva por caminhos inesperados. Foi assim que, durante um estudo sobre “Gabinetes de Leitura”, me vi imerso na história da França, de Luís XIV, da Marquesa de Maintenon, da nobreza e dos jantares palacianos.

Em 13 de agosto de 1837, surgiu no Rio de Janeiro um jornal intitulado Gabinete de Leitura – Serões das Famílias Brasileiras. Seu objetivo era incentivar a leitura, o entretenimento e as diversões para as famílias brasileiras. Na introdução ao público, o jornal apresentou um conto sobre Maintenon, sem mencionar seu nome completo – Madame Françoise d’Aubigné, última e notável figura feminina na vida de Luís XIV. Essa comparação foi utilizada para ilustrar os propósitos do jornal em lançamento. O paralelo reside nas atitudes de Madame de Maintenon, que inicialmente serviu ao rei como governanta de seus filhos ilegítimos, mantendo-os longe dos olhares indiscretos da corte, e posteriormente, como concubina, estrategicamente seduzindo e casando-se com o rei em segredo.

A força desse editorial e da comparação reside nas palavras que traduzem o verdadeiro significado dos “Gabinetes de Leitura”. Por isso, julgamos interessante recontar essa história aos leitores.
O editorial do jornal convidava o público a frequentar suas páginas, assim como Madame de Maintenon atraía sua audiência. Sem fortuna ou posição social que a sustentasse na corte, Maintenon usava sua simpatia e, principalmente, suas conversas agradáveis e despretensiosas para reunir a alta sociedade francesa e aqueles que desejava cativar em jantares regados a alegria. Embora a quantidade e a qualidade da comida não fossem à altura das expectativas dos convidados, todos ficavam encantados com as histórias e anedotas de Madame Maintenon, contadas com perspicácia e sagacidade. Ao final, saíam de sua casa sem perceber a escassez dos pratos.

Em certa ocasião, o criado que servia à mesa, seja por simplicidade ou malícia, dirigiu-se a Maintenon em voz baixa, mas suficientemente alta para ser ouvido por todos, e disse:

“– Minha senhora, conte alguma história a estes senhores, pois o assado queimou e não poderá ser servido.”

Maintenon não se deixou abalar. Elaborou uma narrativa que, se não saciou a fome dos convidados, ao menos os divertiu, inserindo na história suas vulnerabilidades financeiras, a verdadeira razão pela qual não os podia presentear com um banquete mais farto. Esse episódio lhe conferiu a reputação de mulher mais espirituosa de seu tempo e a fez ser indicada para governanta dos filhos de Luís XIV. Desde então, os nobres e plebeus que a visitavam não diziam “vamos jantar na casa de Madame Maintenon”, mas sim “vamos conversar com Madame Maintenon”.

Assim como o editorial do jornal, que seguia o exemplo de Maintenon, convido os leitores a refletirem sobre os convites e os propósitos dos jantares e celebrações que, nos próximos meses, serão promovidos pelos futuros candidatos ao governo municipal. Esses eventos, voltados a influenciadores e à mídia, buscam conquistar apoio, serviços e, claro, votos. Uma notícia que surge de um jantar, tal como os de Maintenon, pode se revelar uma piada, um “lero-lero” ou mesmo mentiras, criadas com o objetivo de enganar.

Será que as “fake news” tiveram origem no século XVII? A resposta, meu amigo, talvez esteja sussurrando ao vento, como diria a canção. E não nos esqueçamos: com a ajuda de um bom maître, um bom atendente e um bom restaurante, podemos transformar qualquer cenário em um mero entretenimento sem consequências.

Para concluir, a bela frase do padre Diogo Antônio Feijó sobre Bernardo Pereira de Vasconcelos pode servir como alerta e critério para avaliar tais eventos: “…um livro para ser lido e depois lançado ao fogo”.

 

Texto inspirado e extraído do Livro Freguesia, Vila e Cidade de uma Campinas Velha 1774 – 1889, Capítulo 18, páginas 336 e 337. Autoria de Genaro Campoy Scriptore

Semana Carlos Gomes – 16 de setembro de 2024

 

Discurso de Genaro Campoy Scriptore,
orador oficial do Centro de Ciências, Letras e Artes,
proferido na Praça Antônio Pompeo
durante a cerimônia em homenagem aos
128 anos do falecimento de Antônio Carlos Gomes.

 

 

Foto-discursandomod-222x300 Semana Carlos Gomes - 16 de setembro de 2024

Discurso proferido em 16/09/2024

 

Boa tarde a todos os presentes.

Reitero meus sinceros agradecimentos a Comissão da Semana Carlos Gomes, a Prefeitura de Campinas ao Centro de Ciências, Letras e Artes e em especial a todos presentes a este evento de hoje enriquecendo ainda mais esta celebração.

Uma grande questão me instiga a pensar: O que celebramos hoje? A data de morte de Antonio Carlos Gomes?

Não! Celebramos a vida de um brasileiro, um paulista, um campineiro ícone da música Universal. Um brasileiro ( que soube honrar a sua pátria nas mais remotas paragens mundiais), um paulista ( que tem seu nome gravado em quase todas as cidades do Estado) e um campineiro (que honrou o nome de sua cidade e deu projeção aos seus concidadãos).

Antonio Carlos Gomes nasceu em 11 de julho de 1836, e foi batizado em 19 de julho de 1836, filho de Manoel José Gomes, conhecido como “Maneco Músico” e de Fabiana Maria Cardoso, conhecida como “Nhá Biana”. Da união de Maneco e Nhá Biana são gerados dois filhos: José Pedro Sant’Anna Gomes e Antonio Carlos Gomes. Uma grande tragédia marcaria a infância de Sant’Anna Gomes com 10 anos de idade e a de Carlos Gomes com 8 anos: na noite do dia 28 de julho de 1844 “Nhá Biana” foi brutalmente assassinada com um tiro e várias perfurações de uma arma branca semelhante a uma baioneta ou uma faca de caça.

Francisco Quirino dos Santos e Benedicto Octávio foram os dois campineiros ilustres que me guiaram na busca de compreender a vida e a obra de Carlos Gomes.

Benedicto Octávio relata em seu livro “Campinas Antiga” que, no ano de 1846, durante as festividades em homenagem à visita do imperador Dom Pedro II a Campinas, no palanque onde a música era destaque, dois jovens músicos chamavam atenção: os filhos do maestro Manoel José Gomes. As duas crianças morenas, de doze e dez anos, destacavam-se entre os músicos, uma tocando clarineta e a outra tangendo os ferrinhos (triângulo).

Já Quirino dos Santos, que conheceu Carlos Gomes na infância, recorda-se dele tocando triângulo ou flautim na banda que desfilava pelas ruas da cidade. Seu apelido era “Tunico”, uma alcunha que simbolizava tanto seu pequeno porte físico quanto sua grande atividade intelectual. Tunico foi um apelido que Carlos Gomes levou com orgulho por toda a vida.

A juventude de Carlos Gomes foi marcada por grandes aspirações e desejos, mas limitada pela falta de recursos materiais. Ele participava da banda musical, ajudava seu pai, que era mestre de capela, e lecionava música nas fazendas locais. Desde cedo, ele mergulhava no mundo das óperas e dos grandes compositores, compondo quadrilhas, tangos, serenatas e modinhas. A música era sua vida, e seus primeiros trabalhos já demonstravam originalidade e beleza que contrastavam com sua pouca idade e os modestos conhecimentos formais que possuía.

Nos últimos anos da década de 1850, Campinas celebrava as Festas da Semana Santa com grande esplendor. Muitos amigos dos irmãos Gomes estudavam na Academia de Direito de São Paulo desde 1854 e 1855, entre eles Campos Salles, os irmãos Francisco e João Quirino dos Santos, os irmãos Américo e Bernardino de Campos, Rangel Pestana e os irmãos Jorge Miranda e Francisco Glicério — conhecidos como os “moços de Campinas”. Dentre esses estudantes, João Ataliba Nogueira, que mais tarde se tornaria o Barão de Ataliba Nogueira, formou-se em novembro de 1858.

Durante as Festas da Semana Santa, que iam de domingo a domingo, os estudantes costumavam retornar a suas cidades para rever familiares e amigos. Em uma dessas ocasiões, João Ataliba Nogueira convidou colegas, como Antonio Dias Novaes, João Gabriel de Moraes Navarro e Francisco Azarias de Queiroz Botelho, para se hospedarem em sua casa durante as festividades.

Francisco Azarias, um jovem mineiro alto, louro e de olhos azuis, admirador de serenatas, logo reconheceu o talento musical de Carlos Gomes e passou a insistir para que os irmãos Gomes visitassem São Paulo e mostrassem seu talento. Assim, Antonio Carlos Gomes, seu irmão Sant’Ana Gomes e Henrique Luiz Levi chegaram à capital paulista em 15 de julho de 1859, hospedando-se na república de Francisco Azarias. Este, como um verdadeiro empresário, empenhou-se em promover apresentações para os músicos, agendando concertos para os dias 21 e 27 de julho daquele ano.

Durante sua estadia, os três músicos foram convidados a se apresentar em diversas reuniões estudantis, especialmente em repúblicas. A única república com um piano era a do sergipano Francisco Leite Bittencourt Sampaio, onde Antonio Carlos Gomes compôs a música para duas peças importantes: a famosa canção “Quem Sabe” e o Hino Acadêmico da Faculdade de Direito, ambas com letra de Bittencourt Sampaio.

Após diversas apresentações de sucesso em São Paulo, incluindo o sucesso retumbante do Hino Acadêmico, Carlos Gomes seguiu para o Rio de Janeiro para continuar sua formação musical. Lá, ingressou no Conservatório de Música Imperial, onde foi orientado pelo renomado maestro Gioacchino Giannini. Em março de 1860, Carlos Gomes compôs sua primeira cantata, intitulada Salve o dia da Ventura, em homenagem à imperatriz Teresa Cristina.

Apesar de estar doente e febril no dia da apresentação, Carlos Gomes não deixou que isso o impedisse de conduzir sua composição, evidenciando sua dedicação e compromisso com a música. Após a morte de Giannini, ele continuou seus estudos com Francisco Manuel da Silva, o compositor do Hino Nacional Brasileiro. Foi sob a orientação desse mestre que Gomes compôs sua segunda cantata, A última hora do Calvário.

Em 1861, Carlos Gomes estreou sua primeira ópera, A Noite do Castelo, uma obra dedicada ao imperador Dom Pedro II. Dois anos depois, em 1863, ele apresentou a ópera Joana de Flandres, cuja repercussão foi tão positiva que lhe abriu as portas para realizar o sonho de estudar na Itália, o berço da ópera. Essa mudança para a Itália foi fundamental para o desenvolvimento de sua carreira internacional.

Poderíamos passar horas falando sobre o sucesso de Carlos Gomes na Itália, com obras como Se Sa Mingá, Nella Luna, O Guarani, I Moschettieri, Salvador Rosa, Saluto del Brasile (um hino em homenagem aos Estados Unidos), Maria Tudor, Lo Schiavo e Condor. Porém, para facilitar e enriquecer ainda mais essa celebração, preparamos um folheto contendo uma linha do tempo da vida e obras de Antônio Carlos Gomes. Nele, nossa audiência poderá pesquisar e relembrar sua trajetória e contribuições à música universal.

Impossível não abordarmos a grandiosa ópera Il Guarany, com libreto de Antonio Scalvini, baseada na obra de José de Alencar, que estreou no renomado Teatro alla Scala de Milão, em 19 de março de 1870. Na plateia, três brasileiros: seu irmão José Pedro de Sant’Anna Gomes, Antonio Carlos do Carmo e o cônsul do Brasil na Itália.

Após o sucesso em Milão, Carlos Gomes retorna a Campinas em agosto, sendo recebido de forma espetacular nos dias 18, 19 e 20. No dia 18, um número incontável de pessoas deslocou-se até Santos para recebê-lo, enquanto outros aguardavam em Jundiaí, onde a Estrada de Ferro Santos-Jundiaí já operava. O trajeto de Jundiaí a Campinas foi feito no lombo de animais, e à medida que a caravana avançava pelas cercanias, mais pessoas se juntavam, formando uma grande comitiva.

Ao chegar às portas de Campinas, o cortejo foi recebido com fogos de artifício, girândolas e bandeirolas que decoravam todo o caminho. A caravana desceu a Rua Direita em direção ao palacete dos senhores Américo e Bernardino de Campos, no Largo da Matriz Nova. Para homenagear o maestro, a Orquestra Campineira (Philorphenica) contratou o ourives Carlos Deviene para criar uma coroa de ouro, um presente de grande valor simbólico.

No dia 19, às 15:00, uma comissão foi buscar o maestro para uma solenidade. Quando ele se aproximou da sala onde ocorreria o evento, a multidão, em respeito, abriu-se em duas filas, com as orlas guarnecidas por senhoras e meninas. Um silêncio religioso tomou conta do ambiente enquanto Carlos Gomes caminhava até o centro. Foi então que o ourives Carlos Deviene, responsável pela confecção da preciosa coroa, entregou-a à comissão, encarregada de oferecê-la ao maestro.

A coroa, formada por dois ramos de louro em tamanho natural, era um objeto riquíssimo, representando o reconhecimento de seu talento. A comissão, liderada pelo notável músico e maestro, Francisco Azarias, que fez um discurso emocionado antes de chamar Joaquina Gomes, irmã do maestro, para coroá-lo. A cena que se seguiu foi de pura emoção e beleza. Enquanto a orquestra tocava notas festivas, a atmosfera foi tomada por uma mudez reverente, como se todos estivessem em um estado de encantamento.

Parecia que, naquele momento, um anjo das harmonias pairava sobre a cabeça majestosa de Carlos Gomes, como se o próprio talento divino proclamasse: “Deus me deu, ai de quem tocar nele.”

Carlos Gomes, depois do sucesso de “Il Guarany”, passa a integrar o rol das celebridades musicais na Europa e no Brasil.

No ano de 1895, em viagem para Lisboa na busca de tratamento médico, dirigiu-se ao Real Teatro de São Carlos para assistir a uma apresentação da ópera Manon, de Jules Massenet. Durante um dos intervalos, a orquestra, sob a regência do maestro catalão Joan Goula I Soley, executou a Protofonia de Il Guarany. A performance foi aplaudida entusiasticamente, destacando-se o maestro, a orquestra e, especialmente, Carlos Gomes. Dom Carlos I, o rei de Portugal, que assistia à apresentação, chamou Carlos Gomes ao seu camarote e o agraciou com a Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, uma das mais importantes comendas do reino português, concedida a personagens ilustres em  reconhecimento ao mérito científico, literário e artístico.

Entretanto, já nesse período, Carlos Gomes sofria com um epitelioma na língua, diagnosticado como câncer, decorrente de anos de tabagismo. Fragilizado, aceitou o convite do governador do Pará, Lauro Sodré, para dirigir o Conservatório de Belém e mudar-se para lá. Durante meses, os paraenses aguardaram ansiosamente sua chegada, que só ocorreu em 14 de maio de 1896. No entanto, devido à sua frágil saúde, o maestro não conseguiu assumir suas funções no conservatório.

Carlos Gomes passou seus últimos quatro meses em Belém, sendo acolhido com carinho pelo povo paraense e pelo governador. No dia 17 de setembro de 1896, o jornal Folha do Norte noticiou seu falecimento, ocorrido na noite do dia 16, às 22h30.

O translado do corpo do maestro foi longo e só chegou a Campinas, sua cidade natal, em 25 de outubro de 1896. Carlos Gomes foi sepultado no Cemitério do Fundão, atualmente conhecido como Cemitério da Saudade, na cripta da família Ferreira Penteado.

Em 18 de setembro de 1903, Santos Dumont, a convite de César Bierrenbach, um dos fundadores do Centro de Ciências, Letras e Artes, teve a honra de colocar a pedra fundamental do monumento-túmulo de Carlos Gomes.

Em 29 de junho de 1904, após um ato religioso ministrado pelo Padre Ribas D’Avila, foi feita a transferência do corpo do maestro do Cemitério do Fundão para o a praça José Bonifácio, hoje Antonio Pompeo, local que compartilhamos neste exato momento. O túmulo do Tonico de Campinas, sem a escultura de Bernardelli, que hoje podemos apreciar, recebeu seu corpo, uma ata assinada por todos as autoridades presentes e um discurso emocionante proferido pelo tribuno João César Bierrenbach.

No dia 2 de julho de 1905, em um domingo marcado pela chuva, ocorreu a inauguração do monumento-túmulo de Carlos Gomes. O evento contou com o descerramento das esculturas criadas por Rodolfo Bernardelli, com a presença do presidente do Estado, acompanhado de diversas autoridades. Os discursos emocionantes proferidos por César Bierrenbach e Salvador de Mendonça marcaram a ocasião, exaltando o legado do grande maestro.

À tarde, as autoridades presentes se reuniram no prédio do Centro de Ciências, Letras e Artes (CCLA), que na época se localizava na Rua Barão de Jaguara. De lá, seguiram em uma caminhada pela Rua da Cadeia até a casa onde nasceu Carlos Gomes, situada na Rua Regente Feijó, número 1205. Nessa casa, uma placa de mármore foi colocada, registrando a data de nascimento do compositor e destacando sua residência em Campinas, cidade que tanto o enalteceu.

Essa cerimônia não só celebrou o talento imortal de Carlos Gomes, mas também marcou sua presença eterna na memória da cidade que o viu nascer e que sempre o reverenciou como um de seus filhos mais ilustres.

Portanto, peço aos senhores um minuto de silêncio para reverenciar a memória de Antonio Carlos Gomes, e encerrarmos nossa homenagem com a penúltima estrofe do poema “Orfeu Triunfante” declamado por Salvador de Mendonça durante a inauguração deste monumento túmulo:

Recebe, terra-mãe, de novo nas entranhas

De lágrimas ungido e maternais carinhos

O corpo de teu filho, o bardo das montanhas

Que traz ainda na fronte a marca dos espinhos

Aqui, de novo, o tens, mãe desvelada e bela:

Tornou enfim teu filho ao berço das colinas

E tornam a cantar as aves peregrinas.

Muito Obrigado

Campinas, 16 de setembro de 2024 17:00

Genaro Campoy Scriptore

Os números do Passado – Agricultura e Medidas Agrárias.

Numeros-do-passadopagina-300x246 Os números do Passado – Agricultura e Medidas Agrárias.

J. P Dilion – 15 de março de 1800

A invasão moura em Portugal e Espanha, ao longo de oito séculos, influenciou profundamente a construção das línguas espanhola e portuguesa, resultando na incorporação de muitos vocábulos de origem árabe. Entre as inúmeras palavras, podemos citar mais de cinquenta que começam com a letra “A”, como alambique, alquimia e alqueire.

A escolha pela palavra alqueire tem o propósito de destacar a história do campo e do agricultor, trazendo à tona práticas do passado que ainda se conectam com as dos dias atuais. No passado, os lavradores usavam a matemática prática para contar, calcular e garantir a subsistência por meio da produção agrícola. Desenvolveram, assim, uma sabedoria subjetiva, baseada na interpretação de atos simples, como plantar e colher.

Alqueire é uma palavra com origem persa e árabe, introduzida no português para definir a quantidade de sementes transportadas em um recipiente, geralmente feito de vime, varas ou cintas vegetais, conhecido como cesto. Durante muito tempo, não havia um padrão rígido para a quantidade de sementes colocadas nesses alqueires, cujos tamanhos variavam.

Segundo a obra de José Fortunato Barreiros [1], o valor de um alqueire foi fixado em 13,8 litros de sementes secas, baseado em um cesto de bronze que comportava 69 decilitros, conhecido como “meio alqueire”, termo assim definido pelo emérito  Presidente da Câmara de Lisboa, “Paulo de Carvalho Mendonça”. Duplicando essa medida, chegava-se a um alqueire, ou 138 decilitros (13,8 litros) de sementes secas.

No passado, os agricultores transportavam dois cestos de sementes (um alqueire) no dorso de um animal para o campo, onde plantavam em covas com duas ou três sementes, distantes aproximadamente um passo entre si. Um litro de sementes era suficiente para plantar 605 metros quadrados (m²), uma área de 11 metros x 55 metros, por exemplo. Para plantar meio alqueire (6,9 litros), o agricultor precisava de uma área de 4.174,50 m². Para planta um alqueire completo (13,8 litros) exigia 8.349 m² de área cultivável.

Em São Paulo, o sistema de plantio adotado era baseado no meio alqueire, com o agricultor debulhando 256 espigas de milho para encher dois cestos de 20 litros (ou 40 kg) de sementes para plantio em uma área de 110 x 220 metros ou 24.200 m² (605 m²x 40 litros). Fernando Pina Figueiredo[2], engenheiro especializado em cálculos, destacou que “20 kg de grãos de milho nem sempre correspondem a 20 litros, devido à densidade variável das sementes”. No entanto, para simplificação, era aceitável considerar que 1 litro equivalia a 1 kg de grãos de milho.

Os mineiros, por sua vez, utilizavam um sistema baseado em um alqueire completo, que exigia 48.400 m² (605 m²x 80 litros), para plantar dois cestos de 40 litros (ou 80 kg) de sementes, o equivalente a 512 espigas de milho debulhadas. A área necessária para esse plantio podia ser representada por um quadrado de 220 x 220 metros ou outros formatos.

Com o tempo, a diversidade de cestos e as variações regionais tornaram o alqueire uma medida imprecisa no meio agrário. Foi somente em 26 de junho de 1862 que, por meio da Lei 1.157, o imperador Dom Pedro II substituiu o antigo sistema de pesos e medidas pelo sistema métrico francês.

Na 12ª Sessão do Comitê Internacional de Pesos e Medidas (CIPM), realizada na França, em uma quinta-feira, no dia 2 de outubro de 1879, discutiu-se e aprovou-se o padrão do hectare, junto com o seu símbolo (ha), para ser utilizado como unidade de medida de superfícies agrárias. Esse momento foi crucial para a padronização de medidas agrárias, pois exigiu um esforço para aprender e implementar a equivalência entre as antigas medidas regionais e o novo sistema métrico, que seria adotado amplamente em diversos países. Essa transição teve impacto profundo no setor agrícola, simplificando a mensuração de áreas de plantio e facilitando a comunicação e regulamentação no campo.[3]

Hoje, no Brasil, a medida agrária oficial é o hectare, conforme estabelecido pela Lei nº 6.746/1979, conhecida como “módulo fiscal”. Essa unidade representa a área mínima necessária para a classificação fundiária das propriedades rurais, que podem ser classificadas como minifúndio, pequena, média ou grande propriedade, conforme especificado pela Lei nº 13.465, de 11 de julho de 2017.

Entretanto, o Brasil, com sua vasta extensão territorial de 8.515.767,049 km², ainda enfrenta desafios relacionados a disputas e demarcações de terras, refletindo a complexidade de definir os tamanhos das propriedades rurais no país.

Tabela demonstrativa para Plantio de Alqueire, com Cestos de Sementes.

Alqueire Litros Cestos Area (metros²) Area Linear (metros)
1 605 11 x 55
½ 6,9 1 4.174,50 50 x 83,49
1 13,8 2 8.349 110 x 75,9

 

Tabela para medida de Alqueire no Brasil.

Alqueire Litros Cestos Qtde Espigas Area (metros²) Area Linear (metros) Estado
½ 40 (40 kg) 2 256 24.200 (605 x 40) 110 x 220 São Paulo
½ 32 (32 kg) 2 205 19.360 (605 x 32) 110 x 176 Mato Grosso (Alqueirão)
½ 45 (45 kg) 2 288 27.225 (605 x 45) 165 x 165 Norte do Brasil
1 80 (80 kg) 2 512 48.400 (605 x 80) 220 x220 Minas e Góias
1 160 (160 kg) 2 1024 96.800 (605 x 160) 220 x440 Bahia

 

[1] Barreiros, Fortunato José – Memória sobre os pesos e Medidas de Portugal, Espanha, Inglaterra e França que se empregam nos trabalhos do corpo Engenheiros e da Arma de Artilharia – Tipografia da Academia Real de Ciências, Lisboa, 1838, página 10 e página 63.

[2] Fernando de Pina Figueiredo, Engenheiro Civil Calculista de Estruturas e Fundações, sócio da empresa Pina Figueiredo Engenharia Estrutural Ltda, membro da Diretoria do Centro de Ciências, Letras e Artes, comentou: “20 kg de grãos de milho nem sempre dão 20 litros, pois a densidade aparente do milho, e de várias outras sementes, é muito variável. O conceito de densidade aparente, ou massa específica aparente, é a massa que cabe em 1 unidade de volume, ou seja, quantos kg (unidade de massa) cabem em 1 litro (unidade de volume). No caso da maioria das sementes, a massa que cabe no volume de 1 litro varia de 0,88 a 1,40 kg. Eu, em meus cálculos de bases de grandes silos, a favor da segurança utilizo o valor de 1,4 kg/litro, pois no silo são 12 metros de altura, ou mais, então o grão fica muito adensado. Mas no caso do agricultor do tempo antigo, que mexia com pequenos volumes, é aceitável sim considerarmos que em 1 litro caiba 1 kg de grãos de milho.”

[3] Procès-Verbal de la deuxième séance de 2 octobre 1879 – Présidence de M. Ibañez P.41 – Paris, Gautier-Villars, Imprimeur-Libraire du Bureau des Longitudes de L’école Polytechnique. Successeur de Mallet Bachelier, 1879