Tenho acompanhado nas redes sociais diversas matérias sobre o tema “Interrupção e Ruptura Digital”, que está se tornando mais do que ferramenta para os executivos de TIC.
O desafio em combinar de maneira eficaz e produtivo este novo conceito abraçado pelo Marketing Digital, mas que na verdade está intimamente ligado ao Planejamento Estratégico é basicamente uma exigência do portfólio de experiências para gerenciar novas empresas no dinâmico e intrigante cenário digital que vivemos.
A inovação por si só não é suficiente, é necessário a intervenção direta nos mecanismo de mercado, nos sistemas em execução, e não se trata de uma abordagem de sistemas padrões e legalizados, se trata de uma abordagem de todos os sistemas e principalmente daqueles que apontam na direção de um novo modelo de negócio, que de tão rápido, eficaz e de intensa propagação muda sensivelmente o comportamento de toda uma sociedade.
Basta olhar para os novos aplicativos criados por empreendedores, apaixonados por TIC e até mesmo por Startup (empresas emergentes).
Modelos de negócios como o Uber, Taxi 99, Airbnb, Booking, TripAdvisor e muitas outras tem criado verdadeiro pânico em outras empresas do setor de Transportes de Pessoas, Turismo e até mesmo o setor de Governo, onde a tributação e operação de serviços não conseguem acompanhar.
Quando Travis Kalanick e Garret Camp em 2007 ou 2008 participavam de um evento de tecnologia e empreendedorismo na cidade de Paris em uma noite com o clima totalmente desfavorável, muita neve, temperatura abaixo de zero, trocaram impressões sobre a necessidade de se obter um taxi com apenas um toque em um celular não havia uma possibilidade de imaginar a interrupção que seria causada nos serviços de transportes de pessoas no mundo todo. Isto começa a acontecer a partir de março de 2009 em São Francisco com a fundação da UberCab em San Francisco, CA.
O serviço era personalizado, semelhante a um taxi de luxo que oferecia carros como Mercedes-Benz S550 e Cadillac Escalade contratados por um aplicativo instalado no celular que informava a localização por GPS do passageiro e custava 5 vezes mais do que cobrava um taxi comum.
Nos anos de 1988 até 2002, me lembro que já existia serviços semelhantes, executados por empresas brasileiras no atendimento à executivos que visitavam nossas empresas vindo do exterior. Eu mesmo contratei este tipo de serviço em Campinas para atendimento de vários americanos e canadenses que nos visitavam nesta época. A diferença é que eram serviços prestados sem aplicativos e sempre o aval de outras empresas e ou a indicação dada para garantir a excelência do serviço e a satisfação de nossos clientes, que necessitavam motoristas falando o seu idioma e até mesmo com um bom grau de instrução e educação.
O Ubercab na verdade já existia aqui no Brasil e nos Estados Unidos da América, o que foi interruptivo no sistema foi a criação do aplicativo e a criação da UberX em 2012 permitindo qualquer proprietário de veículo a virar motorista e prestador de serviços.
O que deu mesmo notoriedade para o serviço foi a quebra de paradigma entre o negócio estabelecido e controlado pela prefeitura de San Francisco e seu órgão fiscalizador de serviços de transportes conhecido como San Francisco County Transportation Authority (SFCTA) que não conseguiu enquadrar a Uber e seus colaboradores dentro das normas tradicionais e colocou a Uber nos holofotes da mídia americana e nas redes sociais em 2013.
A partir daí ocorre o grande fenômeno, que foi o impulso para a propagação rápida na sociedade do serviço e a busca desenfreada pelo aplicativo nos celulares, o crescimento da oferta do serviço, a quebra do paradigma de negócio instituído que sensivelmente afetava e afeta as cooperativas de táxi, arrecadação pública e os serviços dos taxis tradicionais definindo claramente o que é uma “Interrupção Digital”.
Considerando o seu negócio como de uma empresa de tecnologia e não de transporte a Uber não possuí um veículo para o serviço ou sequer motoristas contratados, mas sim colaboradores cadastrados que tem que cumprir certas exigências como:
· possuir carteira de habilitação especial
· atestado de antecedentes criminais
· possuir veículo dos modelos preestabelecido
· possuir seguro para uso comercial do carro
· e passar por entrevistas para efetivar o seu cadastro.
Uber esbarra constantemente em questões legais. Em toda cidade que a empresa desembarca vem os levantes de taxistas, prefeituras e órgãos oficiais contra o serviço.
Como diria meu velho pai, ninguém chuta cachorro morto. A Uber enfiou a mão no bolso do mercado, transformou a realidade com a estratégia de satisfazer o cliente.
Todo este preâmbulo sobre a Uber me faz pensar o quanto temos ainda para evoluir com a Interrupção e Ruptura Digital – Digital Disruption e tudo me veio a mente como nossos órgãos governamentais necessitam da ajuda de TIC para equacionar a Ruptura Digital de seus padrões de taxação e ou arrecadação que se faz necessário diante de qualquer serviço à comunidade.
Esta semana recebi reforço de um convite para a participação do Gartner Symposium/IT Expo 2018 que se realizará em São Paulo 22 – 25 outubro de 2018 | São Paulo, Brazil.
Juntamente com o convite, um E-Book que fala sobre este tema cujo título é “Leading Through Digital Disruption – Gartner Insights on spotting and responding to digital disruption.” Logo de Cara no Capítulo I – Spotting Digital Disruption encontrei o artigo de David Mitchell Smith, Vice President and Gartner Fellow.
Não tenho a pretensão de me tornar crítico com relação ao artigo, mas me abriu uma curiosidade imensa diante de alguns fatos que o artigo contém e principalmente me fixou o entendimento da Interrupção e Ruptura Digital – Digital Disruption.
Nos táxis do aeroporto de São Francisco havia um sistema baseado em transponder que permitia ao aeroporto cobrar por viagens de táxi contratados por aplicativos.
Mas com o advento da Uber, Ian Law, CIO (Chief Information Officer) do Aeroporto Internacional de São Francisco (SFO), CA USA, sentiu a necessidade de encontrar uma solução diferente para gerenciar as novas empresas de transportes e turismo.
A própria natureza das empresas de transporte e turismo mostravam que as pessoas utilizavam muito mais carros pessoais (alugados ou próprios) e colocar um transponder em cada um deles seria totalmente inviável.
Este foi o grande desafio para o CIO e seu aeroporto, que só tinha uma alternativa: “Interromper o sistema”.
Ian Law e sua equipe de TIC projetaram um sistema que aproveita o Uber e aplicativos GPS Lyft.
Esta equipe montou uma “geo-fence” ou seja uma cerca de georreferencia, que é acionada cada vez que alguém esteja executando o aplicativo e violar o perímetro da cerca, com esta informação permite ao aeroporto acompanhar as transações e cobrar a taxa acordada na licença de operação devida pelos transportes de pessoas e do turismo no aeroporto.
O Artigo de David ainda continua discorrendo que embora alguns CEOs possam reconhecer que empresas como Uber, Taxi 99, Airbnb, Booking, TripAdvisor estão interferindo e interrompendo o mundo dos negócios em seus padrões estabelecido, muitos ainda mantêm uma atitude esperar e ver.
Esperar e ver é uma pura ilusão que pretende responder em uma única vez a ameaça identificada no negócio.
Em uma época de interrupção digital, esperar até que uma ameaça esteja clara é muitas vezes tarde demais. Sem tempo para reagir e responder de forma eficiente e que minimize os impactos de seu negócio, isto simplesmente pode acabar com ele.
David Mitchel Smith, adverte que o CIO (Chief Information Officer) e sua equipe de arquitetura envolvidos na construção e ou expansão do negócio digital estão lidando em um ritmo muito intenso e crescente de inovação, o que é muito perturbador para sua a capacidade escalar de crescimento.erença entre fazer crescer ou decrescer o desempenho na curva geométrica de sua atividade ou mesmo no negócio em si, está na capacidade do CIO em se envolver com o sucesso desta interrupção.
“Os verdadeiros inovadores que afetam as mudanças não apenas inovam, eles interferem mudam fundamentalmente a dinâmica das situações em que eles se encontram”. Diz David Mitchel, que demonstra muito claramente a Interrupção e Ruptura Digital provocada pela equipe de TIC de Ian Law no caso das taxas cobradas pelo aeroporto de San Francisco.
“Quando a organização média não é mais surpreendida pela Interrupção e Ruptura Digital, mas em vez disso a utiliza como uma ferramenta de competição normal, com dinâmica organizacional, com a natureza do planejamento estratégico, com os investimentos essenciais e prioritários, juntamente com as tecnologias em uso só pode acontecer a orientação adequada para o futuro de novos negócios com sucesso garantido”.
Estas observações de David Mitchel Smith deveriam ecoar dentro de nossos órgãos governamentais e até mesmo dentro das prefeituras e cooperativas que se prendem a velhos paradigmas negando-se a reconhecer o novo e buscar novas maneiras de criar a Interrupção e Ruptura Digital com novos modelos que tragam benefícios para o negócio e para a população em detrimento de posicionamentos pessoais, individuais e interesses esquivos.
Pensar na Interrupção e Ruptura Digital é trazer novos modelos de negócios que sejam inclusivos e abarquem toda a comunidade, não só a local, mas a comunidade global em que vivemos e que tanto necessita ser satisfeita em suas necessidades mais básicas.